Stana Katic: Invade as Muralhas de Castle

Por Alex Simon

A atriz Stana Katic está com tudo. Após estrelar em papéis de apoio em dois dos maiores filmes do último ano, 007 – Quantum of Solace e The Spirit – O Filme, a escultural e deslumbrante canadense conseguiu o papel principal na nova série de drama policial/comédia romântica da ABC, Castle, interpretando a Detetive Kate Beckett, uma policial durona do Departamento de Polícia de Nova York que se encontra na lamentável tarefa de permitir que o arrogante escritor de best-seller de mistérios, Richard Castle (Nathan Fillion), a acompanhe como pesquisa para o seu próximo livro. Ela não só descobre que o instinto criativo para mentes criminosas de Castle ajuda a resolver alguns dos assassinos mais difíceis da cidade, mas vê seu próprio exterior durão derretendo sob o considerável charme do escritor. A série vai ao ar nas noites de segundas-feiras, na ABC.

Recentemente, Stana Katic sentou conosco em um restaurante grego local para discutir uma variedade de tópicos que mexem com a cabeça dessa linda. Aqui está o que aconteceu:

Vamos começar falando de Castle. A série lembra muito as “brincadeiras” das comédias românticas dos anos 30 e 40 que a série dos anos 80, Moonlighting, copiou mais tarde. Sua personagem também é muito complicada, com um pouco do passado dela aparecendo a cada episódio. Ela é alguém que poderia ter sido qualquer coisa que ela queria ser, mas escolheu virar uma policial.
Stana Katic: Sim, tudo é verdade. Ela era a típica moradora de Manhattan, a caminho de ser uma garota da sociedade, quando uma tragédia pessoal aconteceu e ela mudou de caminho: ela se juntou à força policial para se tornar detetive. Acho que ela é impulsionada pela necessidade dela de ver a justiça prevalecer e pela sua empatia com as vítimas e suas famílias. Ela é uma mulher, o que significa que ela é forte por natureza. Existem outras facetas maravilhosas sobre ela, também: esperança, por vezes juvenil, dúvida e confiança. Há uma qualidade de Joana d’Arc nela, eu acho. Existem diferentes maneiras de se comunicar com as pessoas em cenários diferentes. No local de trabalho, você só pode ser um tipo de pessoa, enquanto com Castle ela precisa ter certo senso de decoro no momento, mas conforme seguimos e ele a conhece mais, podemos ver suas outras camadas.

Você e Nathan Fillion parecem ter um bom relacionamento.
Ele é engraçado. Ele é muito legal e muito gentil. Não sabíamos que nós dois éramos canadenses até sermos contratados. Foi legal ter uma ligação por conta dessas coisas de canadenses que falávamos de vez em quando. (risos)

Como o que?
Eh?”, por exemplo. Estou sempre falando “Eh”, por todo o lado. (risos) O que é estranho é que percebemos que um ou dois convidados de cada episódio eram canadenses. Ficávamos tipo, “Nossa, estamos infiltrando!” (risos)

Achei que você realmente se destacou em The Spirit – O Filme, uma tarefa difícil com todas as belezas do CGI. Como foi trabalhar em um ambiente de tela verde com Frank Miller?
Eu amo o Frank. Eu amo a criatividade dele. Ele é um tipo de diretor diferente. Ele trabalha a partir de imagens e é um verdadeiro gênio. Ele tem tantas histórias para contar e trabalhar com ele foi um privilégio e um verdadeiro aprendizado, porque ele dirige através da imagem. Ele consegue descrevê-la e você tem que falar com ele de maneira abstrata. Ele é tremendamente aberto e não liga para o ego. Ele é só trabalho, o que torna muito emocionante estar ao redor dele. Ele realmente é muito poético. Como um escritor e um locutor, ele é muito elétrico e ele forma imagens com suas palavras. Estou ansiosa pelo próximo projeto dele. A maneira como ele une história e beleza visual em coisas como 300 é realmente única. Talvez ele faça uma sequência de 300 que conte a história da guerra entre os persas e os gregos que aconteceu na água. O personagem de Zoltes tem uma fala fabulosa, ele diz: “Por que todos os meus homens viraram mulheres e minhas mulheres se transformaram em homens?” Os gregos venceram os persas na água e o único navio persa que restou de pé foi o comandado por uma mulher. Frank é louco por história dos antigos gregos, de Sparta e dessa época.

Tantas de nossas histórias modernas podem remeter aos gregos antigos.
Sim, e há também coisas fabulosas que vieram da Pérsia, Índia, China. Há culturas antigas com histórias incríveis por todo o mundo. Muitas das culturas aborígenes têm histórias incríveis, também. Dito isto, Frank é realmente louco por esta era em específico e a história desta batalha em particular, ela foi decidida com uma única e simples manobra: os navios persas eram muito grandes e chegaram até os gregos por todos os ângulos; e os navios gregos, que eram muito pequenos e rápidos, saíram de seu agrupamento, como uma supernova, e então atacaram todos os persas, esmagando-os, exceto por aquele navio solitário, comandado por uma mulher.

Se você olhar em outras espécies, a não ser pelo homem, a mulher é o sexo dominante. Alguns dos maiores líderes da história foram mulheres, como a Cleópatra.
Uma mulher fenomenal! Eu a acho fascinante. Eu acabei de começar a aprender sobre ela e a capacidade diplomática dela.  Para alguém conseguir manter Roma sob controle e impedir que causassem problemas durante seu governo… Eles poderiam facilmente ter chegado e os dominado, mas ela continuou no Egito em respeito a Roma e ela também conseguiu controlar os egípcios. Ela é a única governante de Ptolomeu que aprendeu egípcio, que assumiu sua religião antiga, assim, cativando o povo. Ela se apaixonou, mais ou menos. (risos) Vamos ver se a verdade sobre isso realmente será revelada. No mínimo, se apaixonar por esses dois homens poderosos, César e Marco Antônio, foi uma ação estratégica e brilhante. E ela não era bonita. Ela era carismática e incrivelmente inteligente: ela falava latim, grego, egípcio e Deus sabe quantos outros idiomas e dialetos, também. Toda a família dela, todos os irmãos e irmãs dela queriam prejudicá-la, mas ainda assim ela era a preferida do pai dela… Sabe o que é engraçado, acho que Michael Corleone é um personagem tão incrível, mas temos uma história atual na nossa cultura de mídia de que esses personagens são interpretados somente por homens. Eu nunca me imaginei interpretando outra coisa se não esses personagens.

Claro. Você não quer ser a Connie. Você quer ser o Michael.
Absolutamente. E não é só por causa da dinâmica homem-mulher. É o conceito de família, de dever, de paixões individuais diante do dever e da liderança e o que é necessário na liderança que me fascinam. É tão fascinante, cara. Eu estive no Castelo Hearst no último fim de semana e o Sr. Hearst tinha uma arquiteta trabalhando para ele chamada Julia Morgan, aparentemente, ela era a arquiteta mais importante de sua época. Foi ela que projetou o San Simeon para ele. Eles trabalharam juntos. Ela era a “esposa do trabalho” dele e eles criaram essa arquitetura fascinante; ela construiu mais de 700 obras de arquitetura durante a vida dela, o que é alucinante quando se pensa nisso. Durante a época em que apenas 20% da América do Norte tinha acesso a eletricidade, o castelo todo era movido a eletricidade. Para o abastecimento de água, ela pegou a água da nascente da montanha e a canalizou até as caldeiras e, então, essas caldeiras aqueciam a água que eram utilizadas em duas enormes piscinas. Uma mulher fascinante. Ela seria um tema ótimo para um filme.

Frank Miller parece ter uma verdadeira afinidade por mulheres fortes no trabalho dele.
Ah, ele ama as mulheres e de uma maneira muito Marcello Mastroianni. Ele as ama de todas as formas, tamanhos, graus de inteligência e sanidade. Ele ama o feminino. E ele é tão menino quanto a isso, é realmente lindo de se ver. E The Spirit – O Filme compreende muito desse amor por mulheres, porque está cheio de todas essas personagens femininas maravilhosas e fortes. Você já leu Zorba, o Grego?

Claro. Eu adoro o filme, também. Você gosta do filme?
Eu amo o filme, mas eu amo o livro ainda mais. O livro realmente mexeu comigo, porque ele aborda esse ritmo de vida e existir com a necessidade e o desejo pela vida, essa obrigação de viver. É como se fosse uma mão examinando a Terra. É lutar para existir, mas por completo, de modo vibrante, elétrico. Zorba, este personagem, foi maravilhoso e ele amava as mulheres da mesma maneira. Nikos Kazantzakis é um escritor incrível.

Você pôde trabalhar com o ótimo Robert Benton, em Banquete do Amor. Como foi isso?
Ele ama o que faz. Ele é um diretor fantasticamente delicado, apaixonado e complicado. Ele vê a vida muito vivamente. Ele usa a memória para dirigir os atores dele com muita paciência. Ele foi muito tranquilo: brilhante de se trabalhar no que, em muitos aspectos, era a (minha) primeira experiência em um grande filme. Eu acho que ele tem mais histórias para contar. Ele é muito poético da maneira dele, também. Ele e Frank Miller são poéticos de duas maneiras muito diferentes: Sr. Benton é um pouco mais “flor”, enquanto Frank é um pouco mais “espinho”. (risos)

É, mas lembre-se de que este é também o cara que escreveu Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas, então a cor da violência e escuridão é parte do gosto dele. Nos filmes dele, coisas ruins apenas aparecem do nada e acabam com as pessoas. Em Banquete do Amor, também.
Sim, é verdade, com certeza. Era uma história de amor, mas também havia elementos mais escuros, o que eu não diria que era necessariamente ‘ruim’. Eu apenas acho que eles são parte da vida. A tragédia é uma parte natural da vida. E há algo maravilhoso nisso, se for mostrado com honestidade, como foi em Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas e em Kramer vs. Kramer. Eu diria que essa é a melhor palavra que eu poderia usar para descrever o trabalho do Sr. Benton: honestidade.

Você pôde ser uma Bond girl, ainda que brevemente, no filme mais recente da série, 007 – Quantum of Solace. Como foi isso?
Foi demais! Eu realmente queria fazer parte deste filme e, originalmente, tentei o papel de Strawberry Fields, mas eles sentiram que eu não era certa para ele; além do mais, eu não queria interpretar alguém que seria morta e todo mundo é morto nesse bendito filme! (risos) Mas eu pude passar três dias trabalhando no lendário estúdio em Londres. Daniel Craig foi ótimo, muito engraçado e muito charmoso. E Marc Forster foi um diretor incrível. Nós nos tornamos amigos e ele tem um toque incrível e suave como diretor e, ao mesmo tempo, tem essa incrível força intensa que é uma ótima combinação para um diretor ter. Em muitas maneiras, ele me lembra do jeito como Johnny Depp interpretou o personagem de Sir James Matthew Barrie, em Em Busca da Terra do Nunca. Eu me pergunto se Johnny modelou sua atuação na de Marc.

Parece que você tem uma perspectiva muito fundamentada sobre a vida, o que nem sempre se encontra nas pessoas de Hollywood.
É estranho trabalhar nessa indústria, às vezes. Quando eu preciso de um momento de perspectiva, quando eu sinto como se eu estivesse sendo ridícula em relação a algo, eu apenas me afasto e tento me comunicar ou estar em comunhão com a verdade e, então, eu percebo o quão ridículo todas essas preocupações são. Elas não significam nada! Em 300 anos, o que qualquer um de nós ou nossos pequenos problemas significarão para as pessoas? O que alguém como William Powell significa para as pessoas hoje? Um dos grandes atores, uma referência em desempenho e estilo de menos de um século atrás e ele está praticamente esquecido pela maioria das pessoas.

Eu me sinto assim sobre muitos dos meus diretores preferidos.
Como quem?

Ai, Deus… William Wellman, John Sturges, Robert Aldrich, Don Siegel, até mesmo John Ford, todos os caras que influenciaram os caras dos anos 70, muitos dos quais foram esquecidos pela geração seguinte.
Sim, eles são todos incríveis, mas a maioria das pessoas não sabe quem eles são hoje em dia, o que é realmente chocante, especialmente com alguém como John Ford, que influenciou todos.

Você sabe como Orson Welles se preparou para Cidadão Kane? Ele assistiu No Tempo das Diligências umas 47 vezes seguidas.
Isso é brilhante! Amei.

Vamos voltar para você. Você nasceu e foi criada em Hamilton, Ontario.
E cresci no interior de Chicago, também.

Quando você se mudou para os Estados Unidos?
Quando eu era muito pequena, na época eu ia e voltava para estudar e para visitar a minha família. Este foi o início da nossa emigração para a América do Norte, então foi tudo parte disso.

Seus dois pais são da costa da Dalmácia?
Sim.

Quantos irmãos você tem?
Somos seis. Eu sou a mais velha. Há cerca de sete anos de diferença entre nós, do mais velho para o mais novo. Somos todos pessoas estranhas fazendo coisas diferentes no mundo e todos estão a caminho de se tornarem adultos realmente interessantes. Embora eu não saiba se algum de nós realmente será adulto, porque somos muitos estranhos. (risos)

“Estranhos” deve significar que todos eles são muito interessantes.
Eles são e eles são todos muito bonitos, muito altos e todos são aventureiros. Eles são espíritos maravilhosos e eu tenho muita honra em tê-los como irmãos. É como andar com um exército, quando vamos a algum lugar juntos. (risos) Eu tenho muito orgulho deles.

O que os seus pais fazem?
Temos um negócio familiar que construímos a partir do zero. Da maneira típica de imigrante, eles vieram com nada e construíram um império. Temos casa própria e um negócio de móveis. Lembro-me de brincar em nosso depósito de móveis quando eu era pequena e acho que esse foi o início da minha maré imaginativa. Tínhamos um armazém inteiro de 1920 para brincar. Tudo era acessível para nós. Nós pegávamos essas caixas enormes que os móveis nos eram enviados e fazíamos castelos com eles. Eu brincava com dinheiro: milhares de dólares que ficavam em uma prateleira, aos três anos, no chão com clientes andando por aí e nenhum centavo era tocado. Essa é uma lembrança realmente maravilhosa e foi um playground maravilhoso para se começar a vida. O luxo da criatividade não foi dado aos meus pais porque eles tinham que construir uma vida e tinham que sobreviver, então eu me sinto muito sortuda de poder seguir uma vida criativa.

Mas eles foram capazes de dar a você e a seus irmãos uma criação privilegiada, ao que parece.
Eles nos educaram. Eles nos inspiraram. Eles nos desafiaram. Nós os desafiamos. Eles nos deixaram viajar. Eles nos deram aulas: piano, balé, caratê e assim por diante. Eles são ambiciosos. Eles são pais fabulosos e eu estou muito feliz por tê-los.

Quando você soube que você era uma atriz?
Quando eu tinha quatro anos uma mulher, em uma pizzaria, me perguntou o que eu queria ser quando eu crescesse e eu disse “Uma atriz,” e meu pai suspirou horrorizado. (risos) E isso sempre foi um elemento da minha vida a partir de então. Eu acordava às 6:30 da manhã e levava meus pais para a varanda e os obrigava a fazer peças de teatro, com trajes de balé e roupas aleatórias que possuíamos. Sempre que a família se reunia durante as férias, nós fazíamos uma peça, embora alguém, inevitavelmente, brigasse e se chateasse com o personagem que eles eram obrigados a interpretar e a peça cairia por terra. Isso foi sempre um elemento da minha vida. Não há nada melhor do que atuar.

A vida criativa.
Não só a vida criativa. Há algo que é maravilhoso em ser um ator, porque somos convidados a viver de maneira mais vívida, cinética e eletricamente possível. Lembro-me de viajar para Nova York uma vez com alguns fotógrafos e eu comecei a ver o mundo através dos olhos deles e como eles tiravam fotos. Os olhos deles estavam tirando fotos constantemente e o que eu acho que um artista faz é enquadrar momentos e fazê-los notáveis. Fazendo isso, eles estavam elevando o momento e, talvez, até elevando nossa experiência enquanto caminhamos pela terra. Acho que os atores são abençoados com a oportunidade de experimentar todos os nossos sentidos de uma maneira que somos convidados a enquadrar cada momento, pois, um dia, talvez, eu seja capaz de pegar um momento e ele ecoará em um personagem; ou será uma certa fala que eu possa entregar ao público e isso elevará nossa experiência. Não há nada melhor. Poderíamos estar trabalhando em uma fábrica de aço, onde você é forçado a bloquear muitos de seus sentidos para conseguir terminar o dia. Então, durante essas horas que estamos na fábrica de aço, não estamos vivendo. Mas, como ator, você é convidado a se lembrar deles e a viver intensamente.

A vida da mente, então.
E do coração. E das entranhas. O coração é louco e, como ator, você sempre tem que mantê-lo aberto. Eu sinto muito pelos atores que nos deixaram cedo. Eles mereciam ter alguém que pudesse ajuda-los a abrir os seus corações novamente e, como ator, isso é difícil, pois alguns atores são mais resistentes, mas outros precisam de alguém ao seu redor para ajudá-los a retirar a rigidez que se formou em torno de seus corações. Em algumas pessoas e em você mesmo, você quase pode sentir isso acontecendo em um nível fisiológico. Você pode ver isso fisicamente, também. O que as pessoas fazem é que elas se fecham. É uma coisa animalesca, onde você está usando suas costelas para proteger o seu coração. O coração foi machucado de tantas maneiras. Quando você aprende a se abrir, é incrível a transformação que acontece: a respiração se torna mais completa. O coração se torna aberto. As pessoas são vulneráveis, mas há algo tão surpreendente em vulnerabilidade corajosa. Você sempre tem que lutar por isso como uma pessoa criativa, pois é muito fácil ser reprimido. Às vezes, o mais sensível de nós e quanto o mais “no momento” estamos, mais sensível somos, às vezes precisamos da ajuda de outra pessoa para que possamos reabrir. Eu estou tagarelando. O que mais você quer saber? (risos)

Você estudou na Goodman Theater, em Chicago. Como foi?
Eu não percebi o quão ótimo foi na época em que eu estava estudando lá. (risos) Ela foi muito importante para as fases iniciais de eu me tornar uma atriz, porque você adquire ferramentas. Eu era nova, ingênua e sem experiência, então muitas das ferramentas que recebi na época, eu não as entendi por completo e é só agora que estou entendendo o que elas significavam. Mas tudo bem, porque você recebe a informação, então, quando o seu corpo, mente e coração estão mais flexíveis, você está pronto para contê-la e ela vai se estabelecer e ser guardada. Eu não acho que atuar é uma troca finalizada. Como todo criativo, sempre estamos aprendendo mais. Na verdade, eu estou tendo aulas de Suzuki, agora, que é um tipo de treinamento baseado em teatro japonês. É uma mistura de artes marciais e de formação teatral. Isso ajuda o ator a aprender a como se manter aberto através da compulsão física, o que pode vir de qualquer coisa: stress, dor física e dor mental. Isso ajuda você a aprender a se comunicar através de tudo isso, o que é realmente incrível. Estou me interessando por isso novamente, após estudar isso, inicialmente, na escola de teatro. Eu queria ter contato com isso novamente, porque eu senti que essa foi a base de personagens como o de Russel Crowe em Gladiador, Lady Macbeth ou Cleópatra, que são entidades poderosas que experimentaram mais do que a pessoa normal, por causa de sua grandeza. Apesar de tudo isso, eles ainda têm que se expressar. Você sabia que havia uma parte do antigo teatro grego que era muito espiritual em sua concepção original, onde um sacerdote apareceria, chamaria os deuses e pediria uma benção. Na crença deles, a benção, então, desceria sobre o sacerdote e ele seguiria abençoando os atores que cantariam em resposta, aí a peça começaria. Eu achei isso realmente maravilhoso, de diversas maneiras. Os personagens que esses atores interpretavam eram tão grandes, tão famosos, que eu acho que a forma deles lidarem com isso era deixar que essa responsabilidade saísse dos ombros deles e fosse dos deuses, de forma que eles eram apenas os condutores desta grandeza, deste grande poder insano, sem que sobrecarregasse a vida deles. Estou tagarelando novamente. Estou fazendo algum sentido? (risos)

Completamente. Quando eu escrevo, e eu realmente estou focado, eu sinto como se eu estivesse canalizando. Você não se sente assim quando está interpretando?
Sim, você se perde e é o sentimento mais incrível, é realmente maravilhoso.

O que torna os artistas diferentes é apenas o fato de que eles sintonizam em coisas diferentes da maioria das pessoas, de modo que eles recebem e processam informações de maneira diferente.
É corajoso fazer isso, não é?

Acho que isso é meio que crer cegamente. É algo que não temos escolha.
Mas eu sinto que todos nós temos. Algumas pessoas são corajosas o suficiente para dar crédito a sua infantilidade, outras a evitam e escolhem um caminho mais seguro.

Algumas pessoas também deixam que o sistema tire isso delas e é para isso que ele foi criado: destruir qualquer traço de individualidade ou pensamento criativo em nós a partir do momento que somos crianças.
Sim, e aí, quando eles têm uns 20 anos, mais ou menos, eles se esqueceram disso.
Mas se você der uma folha de papel branca e um lápis de cor para uma criança de 4 anos…
É surpreendente, não é? Tudo o que eles conseguem fazer com um pedacinho de espaço é maravilhoso. Por isso, quando alguém te acusar de ser “infantil”, acho que você deveria considerar isso um elogio.